domingo, julho 11, 2010

A PRAIA







Hoje desembarquei aqui.
Todo o céu saía pelas janelas da casa do promontório, e ia enchendo o espaço entre as coisas até ser tudo feito de luz, mesmo a noite. E a casa saía de dentro dos olhos que eram terra e mar, azul e castanho, vento e cal, e ia crescendo pedra após pedra, e dentro dela nascia um barco com velas de ouro. E de dentro desse barco saíam pássaros falantes e princesas sábias que embalavam sultões e ligavam as noites umas às outras até à eternidade.
Como trazer um coração que só se satisfaz com marés?
Estranha e dolorosa vaidade, que me faz percorrer a fronteira das águas, recolher pedras, conchas, flores magnificamente assassinadas, com o silêncio guardado no fundo da minha mão, como um veneno.