quarta-feira, setembro 12, 2007

Choveu ontem


Choveu ontem à noite.

Uma chuva repentina e feroz, como um animal selvagem a percorrer o ar, respirando liberdade a coberto do dilúvio, invisível. O galope da água que grita, invade a terra, pegadas no ar em reboliço, indícios, inícios.

Fui apanhado de surpresa pela emoção, pelo espanto sem nome nem forma. E de repente tudo transborda nas margens desse rio, as árvores, o voo das gaivotas, o ritmo lento das estrelas, os gatos enroscados na lã da sala.

O tempo das romãs anuncia-se. Chega brusco, nocturno, duma ternura incontida. Como os primeiros gestos dos amantes.