quarta-feira, março 08, 2006

O país para onde vai o trovão e as coisas desaparecem


Por vezes dou por mim a sentir nostalgia de locais invividos, apenas habitados pelo olhar que os percorre. O espaço entre as estrelas, onde sempre achei que nascia o ar, o manto lilás na hora em que muda a luz, o doce algodão das nuvens animadas em mil formas, o canto dos anjos na brisa matinal.
São a matéria ritmada do imaterial. Neles deito a alma, que se estende na imensidão do espaço, sou eu sentado numa rocha a ver a noite, ou a diluir-me no ar, enquanto apanho estrelas no meu regaço. É o círculo dentro do qual convivo com os meus lobos, heróis, feiticeiras.
É uma parte de mim que trago desde que me conheço, e que tem atravessado os dias difíceis ou brilhantes, calmos ou turbulentos, muitas vezes escondida no alforge como uma poção mágica que me ajuda a enfrentar as legiões.

Mas é junto à pele quente da amada que o café tem outro sabor.
No gesto largo dos amigos que o vinho é mais quente.
No sorriso limpo dos filhos que as lágrimas têm mais sal.

Como dizia ela, é melhor olhar para o céu que lá viver. Um país para onde vai o trovão e as coisas desaparecem.

4 Comments:

Blogger Elsa Gonçalves said...

Quem nunca curtiu uma paixão ... esse não vai ter perdão!
Beijos abraços e muitos muitos palhaços.
maria

11:57 da tarde  
Blogger Seamoon said...

Gostei deste teu blog..
bjs

7:20 da tarde  
Blogger poca said...

foste tu que escreveste? gostei!!
poucas vezes olhamos para o horizonte... menos vezes ainda reparamos no que lá mora...

2:23 da tarde  
Blogger joão said...

Obrigado, poca...a importância de olhar as estrelas, de descobrir a nossa verdadeira dimensão, como li nun conto do Agualusa, que gosto tanto. Mas também muitas vezes saber olhar para mais perto, saber ler as pequenas maravilhas que nos rodeiam, encantamentos com que podemos pintar os dias.
E já agora, só o nome do post é roubado, frase que li na boca de catherine hepburn, brekfast at tiffany's.

1:14 da tarde  

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