quinta-feira, março 23, 2006

Um mover de mão


toco no que poderia ser uma amêndoa quente,
ou a maturidade do outono se nos abríssemos ao meio,
clara e demoradamente, com essa demora que é própria das chuvas.
noto que não sei ao certo se um mover de mão tem um ritmo seu,
um ritmo que não partilhe com o espaço que atravessa,
uma intenção distinta da de uma folha que se lança à terra.

quero crer que tudo se faz de um só ventre, que tudo ocupa o tempo
sem diferença, que uma só voz pronuncia todas as palavras desde sempre.
quero crer que se gritar bem alto uma canção ressoará num ouvido,
que se disser “nasci da imaginação de um lírio” meus pés firmarão
raízes no azul dos rios e rebolarei a eternidade no leito dos campos,
internamente, como se não me fosse estranha a vida da seiva.



Vasco Gato

1 Comments:

Blogger Seamoon said...

GOSTEI...
BJS

11:46 da manhã  

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