quarta-feira, abril 26, 2006

Naus


Pode acontecer a qualquer hora, hoje foi neste entardecer de quase Verão. Em que a mudança súbita do ar me deixa sem rumo no sentir, como se a pele se tornasse mais porosa e por ela entrasse todo o mundo numa enxurrada, tantas coisas que nem sei nomear. Coisas solares e lunares, cidades de sol e de horizontes, sabores de corpo no atravessar da noite, vozes sussurradas, lágrimas, silêncio, esperança, o sabor dos morangos, a estranha mania de olhar o céu ou de molhar os beijos, de conseguir chorar a tristeza num abraço ou no silêncio.

A vida é frágil.
É uma nau de vidro à beira do abismo, mas é a nossa única nau. Na transparência profunda do porão transportamos carícias e desenganos, encantamentos e feridas. Todas essas cores, traços que dão peso e asas., com que alcançamos novas paragens. Novos mapas, novas luas, novas cidades que vamos amando ainda mesmo antes de conhecer.