quinta-feira, maio 04, 2006

Naus 2


Quando chega a noite acredito mais.
Nas coisas que não precisam de promessas, a cadência das ondas, o cheiro perfumado das laranjas, a relva molhada debaixo dos pés. Coisas misteriosas, encantos com que me encanto, uma voz azul, um sorriso no caleidoscópio, ilhas do outro lado do mar.
Quando chega a noite acredito que amei mais profundamente os amigos, os amores que choram e riem e têm todas as cores, palavras e silêncio. Que abraçam com força, que beijam as lágrimas que escondo e o riso que rimos.
Quando chega a noite acredito ainda mais nas princesas de asas de ouro, sei-o, tantas vezes descansei no seu regaço e me encantei nos seus olhos. E também em cavaleiros, bravos entre os cavaleiros, nos tritões, nos atlantes. Nos heróis errantes de Samarcanda, nas caravanas da seda.
Quando chega a noite acredito em mãos que repousem em mim, onde eu repouse. Na poderosa alquimia da pele, que exorcisa dragões, velas de uma barca que cruza os mares.
Quando chega a noite guardo essas canções no peito. Quentes e rugosas como as mãos antigas dos avós. Com cheiro a madeira, sal, chocolate. Eternas, digo. Como árvores num campo de alfazema.

1 Comments:

Blogger Seamoon said...

adorei tudo o texto..a foto lindoooo.
bjs

1:13 da tarde  

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