quinta-feira, janeiro 04, 2007

Bandeiras





O vento que por aqui passa a caminho de outro lugar.

Traz cores, o quintal da minha infância, os cheiros diferentes das mulheres, mãos e braços, tardes com pássaros e navios, lágrimas na lã, a mão que se aventura junto à pele.

Traz enxurradas de palavras, palavras desfeitas em letras quentes ou duras, palavras que repetimos, que esquecemos, que reencontramos a cada lufada. Ficam presas nas bandeiras, como peixes dourados numa rede, palavras que são a cinza das vozes, das presenças que cruzam o ar que passa. Fazem-se de novo carne, gente, manhãs, acordar ao cheiro do café.

No céu cada vez mais azul soltamos agora nós vozes. Flutuam por entre as nuvens, na correnteza do ar, levam alguma coisa que soltamos de cada vez, faróis na noite, o mar debaixo dos pés, o cheiro lilás da falésia, escamas de sereia, uma história antes de dormir, uma dor que se apaga entre as mãos. E também as palavras invisíveis que estão em tudo o que não precisamos de dizer.

Porque há bandeiras em todos os mares.