terça-feira, junho 08, 2010

Ilha 3





Por vezes, ao fim da tarde, a ilha decide dormir no fundo do mar. Então mergulha como uma enorme baleia de rocha, leva com ela casas, barcos, florestas, caminhos. À superfície fica apenas uma árvore que se agarra ao céu, como uma âncora, que a ajuda a encontrar o caminho de regresso.

Traz do fundo do mar pedras vermelhas e verdes, recordação das sereias.

segunda-feira, junho 07, 2010

Ilha 2






Parte da ilha é formada por água. Um mar anfíbio, quase terrestre, um território sem dono que pertence ao ciclo do sol, o quinto elemento.
Por exemplo, as manhãs: a água tem então o sabor do café, a pureza da cal, a frescura das laranjas. É a pele, o corpo que acorda ao nosso lado, o primeiro beijo.
Ou a violência da boca, dos gestos que não esperam, urgentes, quando o cheiro é mais selvagem e o ar arde de luz.
Mas mais do que tudo amo o mar lento e profundo da tarde, um abraço, o amor sem pressa, o corpo página por página nos meus dedos, como se a eternidade fosse possível.

Ilha 1







Na ilha a luz demora-se mais sobre a terra, flutua ainda depois de sol se ir. Como se se agarrasse às rochas, às paredes, à areia, à própria naturez do ar, ou como se uma força invisível a impedisse de se escoar para outros mares.
Depois chega a noite, e com ela o vento, palavras perdidas, o grito deserto das gaivotas.
É então que surgem os faróis, como promessas.